Brasil, um Estado que não funciona
O mais correto seria reconhecermos que o Brasil é um Estado que não funciona. Quem sabe assim teríamos coragem de recomeçar, logicamente, com um outro modelo de gestão.
Já está mais que escancarado que estamos fora do trilho já faz um bom tempo. Aqui a democracia é um engodo, sempre temos que optar pelo menos pior; a relação entre os três poderes beira os bordeis coloniais com toda a sua volúpia e hipocrisia; a saúde vive doente, lembra aquele paciente em fase terminal; a educação, coitada, nunca foi prioridade, por isso somos um exército de analfabetos; todos afirmam que precisamos de reformas urgentes, mas de fato elas nunca acontecem da forma que realmente deveriam, sempre o povo é sacrificado e as mordomias prosperam; os partidos políticos vivem uma orgia, vendem-se, corrompem-se, fazem de tudo, menos serem representantes de suas próprias bandeiras e de seus eleitores.
Já está mais que comprovado que o nosso atual modelo de gestão, atrelada à corrupção, está emperrando tudo. Nossa péssima forma de gerir as coisas públicas, já ultrapassou a mais sensata sensação de avanço. A gestão extremamente burocrática não permite avanços, não possibilita desenvolvimento e o pior acaba acobertando a corrupção. Pois cria mecanismos legais para usurpar os bens públicos.
Se vivêssemos realmente em um país sério quantas ditas cooperativas, empresas terceirizadas, fundações, ONGs e demais empresas que se enquadram neste setor da economia sobreviveriam a uma auditoria verdadeiramente transparente, séria, justa e decente? Tenho quase que convicção absoluta que não chegaria a 10%. A grande maioria delas só servem para lavar dinheiro ou se apropriarem “legalmente” do mesmo. E assim caminha o nosso país, com ares de seriedade.
Estamos vivendo uma calamidade pública, e parece que estamos frequentando uma festa de 15 anos. Cidades atoladas em dívidas, Estados quebrados e o país que deve quase 75% do seu PIB (Produto Interno Bruto). Que gestão é essa? Temos dinheiro para tudo menos para o que realmente interessa.
Quando teremos a ousadia, a coragem de admitir que acabou, que não dá mais, que é preciso mudanças de paradigmas gerenciais urgentes!? Nossa máquina pública, enferrujada pela burocracia inútil, está travada em si mesma. E qual seria o caminho? Acredito que só há um: os poucos setores sérios da sociedade e pessoas comprometidas com as coisas públicas precisam se unir em torno de um projeto de nação, unir esforços em prol do país. Parece utopia e talvez seja mesmo. Mas se não for assim, ficaremos eternamente nas mãos dos mesmos que já demonstraram claramente que não estão nem um pouco preocupados com nada que vá além dos seus próprios interesses.
Nossa maior urgência é fazer o Estado funcionar, sair desta inércia, deste fundo do poço no qual estamos imersos. E sem pessoas comprometidas, nada feito!
Walber Gonçalves de Souza é professor e membro das Academias de Letras de Caratinga (ACL), Teófilo Otoni (ALTO) e Maçônica do Leste de Minas (AMLM).
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